Se tem uma cena clássica na vida de quem tem filhos, é aquela do prato cheio de comida e da criança torcendo o nariz. “Não quero isso!”, “Tem gosto estranho!”, “Mas por que eu preciso comer?”.
E assim começa a batalha. Mas será que precisa ser assim? Dá para “ENSINAR SEU FILHO A COMER DE TUDO” sem transformar as refeições em um cabo de guerra? Sim, dá!
A alimentação infantil é um desafio para muitos pais, e é normal se preocupar com o que a criança está comendo (ou deixando de comer).
Mas forçar pode ter o efeito contrário: em vez de criar uma relação saudável com a comida, o pequeno pode acabar vendo o momento da refeição como algo negativo.
Então, como fazer isso de forma leve, respeitosa e sem dramas? Vamos conversar sobre isso!
Por que algumas crianças são mais seletivas para comer?
Antes de tudo, vamos tirar um peso dos ombros: crianças não rejeitam alimentos só para desafiar os pais. A seletividade alimentar pode ter várias razões, como:
- Fase de desenvolvimento: Entre 2 e 6 anos, muitas crianças passam pela chamada “neofobia alimentar” – o medo do novo. Ou seja, elas podem recusar alimentos diferentes simplesmente porque não os conhecem bem.
- Experiência sensorial: Algumas texturas, cheiros ou cores podem ser um grande desafio para os pequenos.
- Exemplo dos adultos: Se os pais ou irmãos mais velhos não comem determinado alimento, a criança pode não se interessar também.
- Associação negativa: Se a criança foi forçada a comer algo ou teve uma experiência ruim (como um engasgo), pode criar um bloqueio com aquele alimento.
Saber disso já ajuda a encarar a alimentação de um jeito mais tranquilo e a encontrar soluções sem pressão!
Como Ensinar Seu Filho a Comer de Tudo sem forçar?
Se o objetivo é ensinar seu filho a comer de tudo, precisamos criar uma experiência positiva com a comida. Algumas estratégias ajudam muito nesse processo.
1. Dê o exemplo
Criança aprende observando. Se os adultos da casa comem uma grande variedade de alimentos e demonstram prazer nisso, a chance da criança experimentar também aumenta.
Dicas:
- Coma junto com seu filho e mostre interesse pelos alimentos.
- Evite comentários negativos sobre comida na frente da criança (“detesto brócolis!” pode ter um impacto maior do que você imagina).
- Transforme as refeições em um momento agradável e sem pressa.
2. Apresente os alimentos de maneiras diferentes
Às vezes, a rejeição de um alimento tem mais a ver com a textura do que com o gosto. Então, variar a forma de preparo pode fazer milagres!
Exemplo:
- Seu filho não gosta de cenoura crua? Experimente ralada, assada, cozida ou em forma de purê.
- Espinafre no prato causa careta? Que tal num suco ou misturado na panqueca?
3. Deixe a criança participar
Quando a criança participa do processo, seja escolhendo os alimentos no mercado ou ajudando a preparar a refeição, ela se sente mais envolvida e curiosa para experimentar.
Dicas:
- Leve seu filho à feira ou ao supermercado e peça para ele escolher frutas e legumes.
- Deixe-o ajudar na cozinha, lavando vegetais, misturando ingredientes ou montando o prato.
4. Evite pressões e chantagens
A frase “Se não comer, não ganha sobremesa” pode até funcionar a curto prazo, mas ensina que a sobremesa é um prêmio e o resto da comida é um castigo. Melhor evitar!
Em vez disso:
- Ofereça os alimentos sem exigir que a criança coma.
- Não force a finalização do prato. Deixe a criança reconhecer os sinais de fome e saciedade.
5. Respeite o tempo da criança
A exposição repetida a um alimento aumenta a aceitação, mas isso leva tempo. Estudos mostram que pode ser necessário oferecer um alimento 10 a 15 vezes antes da criança aceitá-lo!
Dicas:
- Continue oferecendo sem pressão.
- Sirva pequenas porções para evitar desperdício e ansiedade.
- Tenha paciência: cada criança tem seu ritmo.
O que fazer se a criança recusar comer certos alimentos?
Mesmo aplicando todas essas estratégias, pode ser que seu filho insista em rejeitar alguns alimentos. E está tudo bem! Aqui estão algumas alternativas:
- Mantenha a calma e não transforme a recusa em um problema.
- Evite substituir imediatamente por algo que ele goste. Isso pode reforçar a seletividade.
- Continue oferecendo de tempos em tempos, de forma leve e sem cobranças.
- Varie os acompanhamentos. Um alimento pode ficar mais atrativo quando servido com algo que a criança já gosta.
Lembre-se: o objetivo é criar uma relação positiva com a comida, e não fazer a criança comer tudo de imediato.
E quando procurar ajuda?
Se a seletividade for extrema e a criança apresentar sinais como:
- Rejeição severa a grupos inteiros de alimentos (não come nada verde, por exemplo);
- Dificuldade de ganho de peso ou crescimento inadequado;
- Reações emocionais muito intensas à comida (choro, ânsia, pânico);
- Seletividade persistente, mesmo após várias tentativas;
Vale a pena buscar orientação com um pediatra ou nutricionista para avaliar se há algo mais envolvido, como questões sensoriais ou nutricionais.
Conclusão: comer bem é um processo!
Ensinar seu filho a comer de tudo é um trabalho diário, e a paciência é sua melhor aliada. O mais importante é tornar o momento das refeições algo positivo, sem brigas ou pressões.
Quando a criança se sente segura, respeitada e tem bons exemplos ao redor, a alimentação equilibrada acontece naturalmente.
Então, que tal começar com pequenas mudanças? Experimente uma nova forma de apresentar um alimento, convide seu filho para a cozinha ou apenas relaxe um pouco mais nas refeições.
No fim das contas, o que vale mesmo é construir uma relação saudável e feliz com a comida!
Dra. Danielly Borges
Pediatra
CRM-SP: 179427 | RQE: 60504